Processo de aprendizagem: entraves e possibilidades
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Profa. Rosa Maria Cavalcanti Brito
O que bloqueia a aprendizagem?
O entrave das crenças
As crenças dão forma às experiências
Os entraves do medo
O segundo entrave é o medo de ter sucesso, que caminha lado a lado com o medo de fracassar, sendo movido pelo orgulho pelos resultados conquistados. Ter medo do verdadeiro sucesso, passando a não poder ter um insucesso futuro do qual seria responsável. Esse comportamento faz com que o indivíduo caminhe em várias direções, desperdiçando energia para, ao final, se justificar dizendo que não teve tempo de completar aquela ou aquelas atividades. Precisa-se atribuir, à vida, os sucessos e permitir que ela se utilize do ser humano como o seu fio condutor. O terceiro entrave é o medo de ser diferente. Apesar de existirem bilhões de seres humanos no planeta, nenhuma impressão digital ou íris do olho é igual à outra. Todos são ímpares na humanidade. Esse medo é alimentado pela conformidade e pela pressão exercida pelos semelhantes em detrimento da individualidade, inclusive em relação a costumes e atitudes. É preciso comemorar as diferenças, já que é monótono um quadro que retrate a imagem de todos com uma mesma cor, anatomia idêntica, fisionomias iguais. Todo indivíduo é único, por isso devem ser valorizadas as diferenças, fazendo cada um a própria trajetória, o seu projeto de vida. Por último, o medo da mudança — no qual tudo que é confortável se torna hábito, aqui incluídas as modalidades de pensamento e de comportamento —, que conduz o ser humano ao medo da mudança ou ao medo de sair da nossa Zona de Conforto, contribuindo para a produção estanque de paradigmas.
E o que seria essa Zona de Conforto?
O processo de aprendizagem, de crescimento e de mudança deve ser parte integrante e contínua da vida, e, para tanto, deve-se compreender suas cinco fases para que não haja surpresa quando elas surgirem. A primeira fase é a da rejeição, fase em que se nega a necessidade da mudança. A tendência é manter o sistema em repouso e deixar do jeito que está sem ver necessidade de mudar. “Vem dando certo há tanto tempo”, isso para justificar a maneira de agir e julgar o outro que apresenta um novo caminho, uma nova prática ou, ainda, uma nova possibilidade. A segunda fase é a da aceitação, caracterizada pela aceitação do processo de mudança. As novas idéias estão incubadas e não têm tempo determinado para aflorar, podendo esse processo ser rápido ou levar meses. Passa-se a encarar a mudança de forma positiva, considerando a nova possibilidade. A terceira fase é a da volição, a vontade de mudar é pessoal e interior; a mente e o coração desejam essa mudança. O consentir é o passaporte para o aprendizado ou o crescimento. A quarta fase é a da decisão, é o convite da voz interior: é a hora de mudar, passar da decisão para a ação e caminhar na direção do objetivo a que se propôs. A quinta fase é a da ação. Nessa hora, é preciso ter em mente que é necessário sair, de forma gradual, da Zona de Conforto, tendo em vista que uma saída abrupta pode desequilibrar o sistema vivo, inclusive o sistema de hábitos, pois é quando se percebe quão internalizados os velhos hábitos estão. Para tanto, não se deve operar uma transformação radical, para dar tempo ao sistema de se reequilibrar no período do processo de mudança. Agora uma amostra com resultado positivo num processo de transformação gradual. Um aluno de 12 anos sonhava em aprender a nadar. Passava tardes olhando os colegas na aula de natação ou os que estavam treinando, pois faziam parte da equipe de natação da escola. Ele sentava ao lado da piscina, mas não conseguia entrar na água, pois tinha medo (Fase 1 – Rejeição). Aos poucos, sentou na borda da piscina. Dias depois, conseguiu colocar os pés na água e passou a batê-los. Aos poucos, ia aceitando a idéia de entrar na piscina (Fase 2 – Aceitação) e até mesmo desejando ter coragem para entrar na piscina (Fase 3 – Volição). Depois, pensou com seus botões: “Se eles podem entrar na piscina, eu também consigo” (Fase 4 – Decisão). Pediu à mãe para comprar os óculos de piscina e a touca (Início da fase 5 – Ação). Todos os dias, levava a touca e os óculos, mas continuava sentado na borda da piscina a bater os pés. Depois, colocou os óculos e a touca, mas não entrou. Dias depois, após colocar o material, chamou o professor e pediu ajuda para entrar na água. Entrou e, a partir daquele dia, estava na piscina em todas as aulas, aprendeu a nadar e passou, após muito treino, a fazer parte da equipe de natação da escola (Fim da Fase 5 – Ação). Para objetivos de longo prazo que se encontram distantes da Zona de Conforto, é mister que o processo se dê de forma gradual, passo a passo, de maneira que gere conforto, possibilitando a aquisição de comportamentos novos e ampliando a Zona de Conforto.
Bloqueios de atitude
Pesquisa recente das funções do cérebro aponta o motivo que leva a opinião preconcebida a ser tão prejudicial ao processo de aprender. O Sistema de Ativação Reticular — conhecido pela sigla RAS — é um feixe de fibras nervosas com o tamanho aproximado da ponta de um dedo e localiza-se na base do cérebro. Tem como função regular e filtrar as informações sensoriais captadas e evitar uma sobrecarga sensorial em um dado momento. O RAS tem duas funções específicas. A primeira é controlar o nível da informação recebida; a segunda é guiar a nossa atenção, permitindo a entrada do que é julgado importante e bloqueando o que não interessa naquele momento. É o RAS que faz com que as mães percebam uma alteração da respiração do filho durante a noite, permite a concentração em uma determinada tarefa, ignorando o que é estranho à finalidade. As crianças com RAS deficiente não se concentram em uma coisa de cada vez e são bombardeadas por imagens, sons e sensações do seu entorno. Sem a concentração da atenção no tempo correto e suficiente, elas não escutam o que pais e professores lhes dizem. O defeito do RAS é tão grave que, até pouco tempo, as crianças com RAS deficiente foram julgadas mentalmente perturbadas. Porém, com a pesquisa cerebral recente, identificou-se que era apenas um fenômeno físico, e não mental, obedecendo às decisões tomadas pela pessoa que habita o traje corporal. Por exemplo, um professor de Língua Portuguesa que a escola enviou para um seminário objeto do seu desejo e um outro professor da mesma disciplina, mas que não desejava estar naquele seminário. Os dois passaram o dia participando da mesma atividade lado a lado, ouvindo o mesmo conteúdo pelo mesmo instrutor. Ao final do dia, o que não desejava estar lá vai embora alegando perda de tempo porque o ambiente não era propenso e que o instrutor não tinha o dom da oratória, o assunto não interessava. O outro sente-se totalmente satisfeito, tudo foi maravilhoso, atendeu a todas as suas expectativas em todas as categorias. Por que a diferença de atitude se o evento era o mesmo? Porque a diferença estava na inclinação do RAS de cada um deles. Um RAS foi informado de que o professor desejava estar naquele seminário e de que o outro, dono e operador do traje corporal, não desejava estar lá. Aqui, os dispositivos de filtragem cerebral, o que controla o nível da informação e o que dirige a nossa atenção, atuam durante todo o dia demonstrando que o indivíduo que operava o traje corporal estava correto no seu pressuposto. Fica claro o prejuízo no processo de aprendizagem decorrente da opinião preconcebida: o cérebro faz a filtragem, descarta tudo o que vai de encontro à opinião e permite a passagem de tudo o que confirma. Já foi dito que o aluno sabe pouco e descobre muito. Deve-se levar a vida como alunos, não querer ser só especialistas, permitir à mente esvaziar-se do que é preconcebido e ser aberto e receptivo ao que a vida oferece a cada momento.
Rompendo nossos entraves
Para cada obstáculo ou barreira, existe solução; para cada aspecto negativo, existe o positivo; para o desânimo, existe o ânimo; e, para a aprendizagem, existe a ensinagem. Não se deve esquecer que os desacertos com o processo de aprender estão diretamente ligados aos medos, às crenças e às atitudes. Portanto, urge a mudança da maneira de pensar, de agir, saindo gradualmente da Zona de Conforto, na aventura deliciosa que é o terreno do aprendizado. Escalar a montanha do medo, atravessar o rio das crenças e colocar as atitudes no primeiro lugar do pódio, ganhando a corrida, vencendo os entraves e as barreiras e levando, como prêmio, a conquista do aprendizado. Bibliografia HUNT, Trinidad. Aprendendo a aprender. Rio de Janeiro: Record: Nova Era, 2000. Profa. Rosa Maria Cavalcanti Brito Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA Coordenadora do Colégio Diocesano Cardeal Arcoverde/PE fonte: http://www.construirnoticias.com.br/asp/materia.asp?id=1263 |
Abordagem de matérias sobre aprendizagem, envolvendo neurociências, hipnose, ginástica cerebral, técnicas de estudos, teorias da aprendizagem e experimentos científicos.
domingo, 12 de fevereiro de 2012
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